É FÁCIL ENGANAR AS PESSOAS


Maurício Zagari 

Quando você cria um blog, seu nível de exposição torna-se bem maior do que se possa imaginar. É uma quantidade significativa de internautas que leem os textos e interagem comigo. Isso me gerou muitas percepções. Mas, de todas as percepções que blogar me proporcionou, uma das mais visíveis é como é fácil as pessoas se enganarem a seu respeito. 
Calma. Não estou dizendo que deliberadamente engano você, meu irmão, minha irmã. Não é isso. Mas como escrevo sobre a fé cristã a partir daquilo em que acredito, a imagem que muitos dos leitores acabam construindo sobre o autor dos textos é de uma grande santidade, de uma monstruosa intimidade com Deus, de muita devoção. Isso fica claro quando leio os comentários de diversos irmãos que, por uma enorme bondade em seus corações, tecem elogios a mim. São irmãos e irmãs que não me conhecem pessoalmente, não enxergam as profundezas do meu coração e, assim, formam uma imagem a meu respeito baseado no que escrevo. E confesso que por vezes sou tratado como um homem de Deus tão santo que quase acredito. 
Isso é um enorme problema. Pois é exatamente assim que começam a se formar celebridades gospel. Que pastores começam a ser idolatrados. Que cantores evangélicos ganham fãs. Que teólogos e palestrantes passam a ser vistos como inerrantes aos olhos de muitos. Que pastores hereges ou gananciosos são amados por cristãos sinceros apesar de suas heresias e de seus intere$$e$. Tudo porque, sem se conhecer a fundo os indivíduos e suas mazelas, começamos a olhar para eles por sua aparência de santidade e piedade, por suas palavras eloquentes ou bonitas, por seu jeito aparentemente espiritual de entoar louvores… e criamos imagens em nossas mentes sobre como essas pessoas são a partir de suas máscaras. Mas por baixo dessas máscaras muitas vezes a coisa é bem diferente. E eu vou provar com o meu exemplo. Para não falar dos outros, vou me pôr na berlinda. A você que me elogia pelo que eu escrevo, deixe-me confessar algumas coisas a meu respeito. 
Sou uma pessoa absolutamente normal. Como você, tenho minhas muitas deficiências. Como você, luto constantemente contra minha carne e contra zilhões de defeitos. Me iro, sinto ódio, brigo com minha esposa, perco minha paciência, falo o que não devia, faço o que não devia, sinto inveja, mágoa, ciúmes. Cobiço o bem do próximo. Como você, luto a cada dia para viver em intimidade com Deus, embora tenha dias em que fique com preguiça de ler a Bíblia e sinta sono para orar. Como diz o clichê, tem dias em que “só a graça”! Como você, nem sempre amo a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Chego a ser egoísta, em muitas ocasiões. Perco a cabeça. Como você, tenho pensamentos impuros. Como você, tenho vontade de matar certas pessoas – depois de enche-las de sopapos, claro. Já cometi pecados após a minha conversão que me enchem de culpa e, embora eu esteja sinceramente arrependido e saiba que Deus me perdoou, eu mesmo não me perdoei. Em resumo, meu irmão, minha irmã, sou exatamente como você: decepcionante, um pecador de marca maior, numa luta constante contra minha natureza humana e numa perene busca desesperada por Deus e pela santidade. Que parece sempre um alvo inatingível. 
Mas há um porém: apesar de eu ser todo esse amontoado de pecados, escrevo sobre aquilo em que creio. Aquilo de que não tenho a menor dúvida que seja verdade. Creio no Evangelho. Creio na Bíblia como a inerrante revelação de Cristo. Creio em Jesus. Creio na graça sem a qual eu e você iríamos para o inferno. Creio que há perdão para o pecador arrependido. Creio na santidade e a vejo como uma meta essencial. Creio que devemos combater as heresias e os hereges. Creio na pureza de coração. Creio que devemos ser como o cristão que Jesus descreve no Sermão do Monte. Se eu fosse perfeito é como eu gostaria de ser. Difícil, para não dizer impossível. Mas lutar para chegar lá é totalmente possível. 
Vivo, portanto, uma contradição. Escrevo e prego sobre o que creio, mas vivo com milhões de erros e cometo bilhões de pecados. Isso faz de mim um hipócrita? Ou… um humano? Não sei. Só cabe ao Espírito Santo de Deus me julgar. Mas sei de uma coisa, como já pus em outro post: a Bíblia diz que os anjos pediram ao Senhor para proclamar o Evangelho, só que, estranhamente, Ele decidiu dar essa tarefa aos homens. Que bizarro, que escolha aparentemente contraditória e sem sentido. Porque, se você parar para pensar, ao longo dos últimos 2 mil anos, as boas-novas de salvação só têm sido pregadas por… pecadores carentes de salvação. A santidade tem sido estimulada somente por homens com falhas graves na sua própria santidade. O arrependimento dos pecados tem sido apregoado por homens e mulheres desesperadamente necessitados do arrependimento de seus pecados. Todos os humanos que pregaram o Evangelho até hoje compõem uma grande multidão de “mascarados”, pessoas que anunciaram o Caminho para o Céu enquanto dentro de seus peitos pecados horrendos vicejavam e os poluíam. 
Somos desgraças ambulantes pregando a graça. 
Eu me enquadro nesse grupo. Todos os cristãos que caminharam sobre a terra nos últimos 20 séculos se enquadram nesse grupo. Mesmo assim, Deus nos mandou divulgar o maravilhoso Jesus e as coisas que Ele ensinou. Fascinante. Se Cristo aparecesse para mim hoje eu teria vergonha de olha-lo nos olhos. Pois o peso da minha pecaminosidade e falibilidade me esmagaria. Mesmo assim o amo. E nunca cessarei, enquanto Ele me permitir, de proclamar que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Nunca cessarei de pregar a mensagem da Cruz. Trinta segundos após pecar subirei num púlpito e pregarei que não devemos pecar. Simplesmente porque é o que devemos fazer. Porque é o certo. 
Sejamos honestos: se eu e você fossemos esperar sermos santíssimos para anunciar que devemos ser santíssimos jamais ninguém abriria a boca. 
Se eu e você fossemos esperar que nossos pecados cessassem ou que nossa máscara de bons homens e mulheres caíssem para que fossemos sentar e escrever sobre como devemos nos despir das máscaras de santidade, assumir nossa natureza pecaminosa e afirmar que precisamos terrivelmente nos santificar…você não estaria lendo essas linhas agora. Sim, eu uso máscaras de santidade, negar sim seria hipocrisia e mentira. Oculto dos outros meus muitos pecados e os trato com Deus, entre as quatro paredes do meu quarto. Exatamente como você faz. Ele me conhece. Ele conhece você. E sabe que quem se esconde atrás de cada máscara  é uma pessoa real: pecadora, errada, miserável em suas transgressões. Se cada um saísse pelas ruas alardeando seus próprios pecados não haveria espaço para caminhar em meio à multidão. Mas a questão é que absolutamente todo cristão que pisa numa igreja é um tremendo pecador vestindo máscaras de santidade mas com o rosto desfigurado pelo pecado. Todo. Sem exceção. Eu. E, se você tiver coragem de admitir, você também. 
O que nunca deve nos impedir de proclamar Cristo, o Evangelho, a salvação, o arrependimento dos pecados, o juízo, o perdão… e a maravilhosa graça. 
Em 1 João 1.8-10 disse o apóstolo amado: “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós“. Não, eu jamais faria de Deus um mentiroso, assumo minha natureza pecadora, confesso a Ele meus pecados e creio que Ele é fiel e justo para ter me purificado de todo o mal que pratiquei. E, assim, sigo escrevendo sobre a fé. 
Então sim, eu escrevo sobre o que tem que ser escrito. Escrevo porque é a verdade. Escrevo para edificar, embora eu mesmo prejudique pessoas. Escrevo para consolar, embora eu mesmo tenha minhas dores, que precisam de consolo. Escrevo para exortar, embora eu, me conhecendo como me conheço, saiba que ninguém mais do que eu precisa ser exortado. Mas mesmo assim o faço. Escrevo neste blog. Escrevo em livros. E Deus, por sua graça incompreensível, por seu amor imensurável, por sua compaixão e misericórdia impossíveis de se alcançar racionalmente em toda sua extensão… ainda assim usa as palavras que saem deste pecador incorrigível que sou para tocar corações, amparar necessitados, aconselhar pessoas em dor e até evitar suicídios, como já contei aqui. Eis o porquê de eu continuar escrevendo sobre santidade; combatendo os inimigos de Cristo; denunciando as heresias e os hereges; trazendo reflexões sobre as coisas de Deus; buscando não esmagar quem peca, mas ajudá-lo a se pôr novamente de pé. 
Meu irmão, minha irmã, eu sou pó e cinza escondidos por trás de uma máscara de piedade. Como todo pastor-celebridade. Como todo artista gospel. Como todo blogueiro. Como todo tuiteiro. Como todo teólogo. Como todo cristão. Por isso, não seja fã nem idolatre ninguém. Nenhum de nós tem a capacidade de ser exemplo: só Jesus. Só Jesus. 
Não me idealize, querido, querida. Meus prêmios, livros e textos não fazem de mim alguém louvável. Sou exatamente igual a você: um pecador que carece diariamente da graça do Cordeiro de Deus que veio tirar o pecado do mundo. Não pense que sou melhor do que ninguém, não sou. Eu poderia ser muito melhor. Mas não é por isso que deixarei de estimular meu próximo a ser o melhor que ele puder. E não é por isso que não creio piamente no que escrevo: creio na graça, na glória de Deus, na remissão da humanidade pelo sangue derramado na Cruz, na luta desesperada pela santidade. E já escrevi sobre pecados enquanto lágrimas desciam por meu rosto sabendo que eu estava sendo o primeiro a ser alcançado pela minha própria exortação. 
Então, querido, não me elogie nos seus comentários no blog. Em vez disso faça uma oração por mim – e por todos aqueles que você considera exemplos de santidade. Isso será muito mais proveitoso para minha vida espiritual, tão carente por trás das máscaras que uso. Tenha certeza absoluta ao ler meus textos e livros: foram escritos por um homem que peca, que sabe que peca, que odeia pecar e ainda assim peca, mas que proclama o Evangelho acreditando com toda sua alma naquilo que escreve e que deseja edificar o Corpo de Cristo. Que ama Jesus, a Bíblia, a Igreja, o Evangelho. E que luta diariamente para aproximar aquilo que vive daquilo que prega – embora nem sempre consiga. Mesmo assim, se for o caso não deixe de abrir seu coração para aquilo que escrevo, pois Deus pode usar até uma mula falha como eu para falar a você. É o que Ele tem feito por 2 mil anos por meio de cada pecador que proclamou o Evangelho da graça e é o que continuará fazendo até a gloriosa volta de Jesus. 
Paz a todos vocês que estão em Cristo. 

SOU A FAVOR DA ESCRAVIDÃO

MAURÍCIO ZÁGARI

Você é a favor da escravidão? Pode parecer estranho e até ofensivo eu te perguntar isso, afinal, nenhum ser humano civilizado considera a escravidão humana algo correto, não é mesmo? Bem, na verdade, até pouco mais de um século, aqui mesmo no Brasil, milhões de pessoas civilizadas e cultas acreditavam que ter escravos humanos era algo totalmente normal e cabível. Como pode? Como pode tantos indivíduos bons e até mesmo cristãos terem visto essa prática abominável como aceitável? Eu estava vendo fotos do acervo do Instituto Moreira Salles que mostram escravos no Brasil há apenas cerca de 130 anos. As imagens me impactaram e comecei a refletir sobre a escravidão. Meu primeiro impulso foi o de condenar aquela sociedade, que abraçava como natural a ideia de que pessoas podem ser donas de outras e fazer com elas o que quiserem. Mas, pensando mais um pouco, acabei chegando à conclusão de que, se eu vivesse no Brasil daquela época, também não teria problemas com a escravidão. Possivelmente, eu mesmo teria alguns escravos. Por quê? Porque estaria tão inserido naquela realidade que nem gastaria muito tempo pensando sobre a validade daquilo. Na verdade, estaria tão acostumado com aquela situação que minha mentalidade seria: sempre foi assim, sempre será; é como é, não há o que questionar. E essa constatação me conduziu a uma percepção espiritual: eu sou a favor da escravidão. Permita-me explicar.

Você já assistiu ao filme “O show de Truman”? Se não, recomendo que o faça, é um dos longa-metragens mais interessantes a que já assisti. Narra a história de um homem que viveu toda sua vida num gigantesco estúdio de televisão. Todas as pessoas com quem convive são atores, num grande reality show. Sua vida não passa de uma enorme mentira, mas ele vive anos nessa loucura sem perceber. Em certo momento do filme, um repórter pergunta para o diretor e idealizador do show: “Por que o senhor acredita que Truman nunca percebeu que está num programa de televisão?”. A resposta dele é muito significativa: “Nós aceitamos a realidade do mundo conforme nos é apresentada”. Isso explica com clareza por que milhões de pessoas boas acatavam a escravidão como normal: elas nasceram numa realidade em que aquilo era natural, cresceram aprendendo que não havia nada de mais na escravidão e, por isso, nunca questionaram aquela barbárie.

escravo0Nascemos escravos do pecado. Crescemos escravos do pecado. No mundo, enxergamos a escravidão ao pecado como algo aceitável. Enquanto as correntes da transgressão prendem nossos pés, não questionamos essa situação. Vemos como algo natural a desobediência a Deus, afinal, a realidade que nos foi apresentada pela sociedade ao nosso redor é a da escravidão ao pecado – e a temos como normal. Até que, um dia, uma alternativa se descortina diante de nossos olhos: Jesus nos dá carta de alforria. Percebemos, então, que é viável uma vida que se desagrada do pecado. É impossível nos livrarmos totalmente das algemas que nos prendem à transgressão, mas o Espírito Santo nos mostra que podemos não nos conformar a ela. “Porque, se fomos unidos com ele [Jesus] na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição, sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos [...] Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rm 6.5-6, 17-18).

Até aqui nenhuma novidade. Tenho certeza de que você já sabia que a salvação em Cristo no torna livres da escravidão do pecado. Você é chamado pela graça de Deus e, com isso, torna-se absolutamente, totalmente, inquestionavelmente livre, certo?

Errado.

Eis o ponto fundamental: na verdade, a salvação não vem para nos tornar livres da escravidão. Ela vem apenas para mudar o nosso dono. Continuamos escravos, mas não mais do pecado: de Cristo. “O que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo” (1Co 7.22). Ou seja: deixamos de ser escravos do pecado para nos tornarmos escravos de Jesus. Nesse sentido, sou, sim, totalmente a favor da escravidão e me contento com essa realidade, apresentada não mais pelo mundo, mas pelas Escrituras sagradas. “Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna” (Rm 6.22).

A grande diferença entre esses dois tipos de escravidão é que o pecado nos torna apenas escravos – seres abatidos, sem vontade própria, destituídos de liberdade. Porém, ao nos tornarmos escravos de Cristo, recebemos também outros títulos: somos feitos filhos de Deus, amigos de Jesus, herdeiros da eternidade, verdadeiramente livres! “Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.34-36). Ser escravo de Cristo significa receber alforria não para ser um indivíduo autônomo e independente, mas totalmente acorrentado à liberdade que a vida eterna nos concede. Portanto, aceite a escravidão, ela é uma realidade inevitável.

escravo2Infelizmente, mesmo ao nos tornarmos escravos de Cristo algumas correntes de nosso antigo senhor continuam atadas aos nossos membros. Por isso, embora tenhamos sido chamados pela graça à servidão a Deus, continuamos sendo puxados de volta à senzala do pecado. É o que Paulo escreveu: “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado” (Rm 7.14-25).

Não tem jeito, meu irmão, minha irmã, você é e será sempre escravo. A questão é: de quem? Se Cristo te chamou pela graça, você pertence ao Senhor, mas saiba que o pecado não ficou feliz com essa mudança. O pecado quer você de volta. Não permita que isso aconteça, lute pela sua servidão ao único amo que oferece a paz, Jesus Cristo. A cruz te libertou, mas o Diabo quer manter você acorrentado. O que te manterá longe da senzala da transgressão é a sua santidade. Muitas vezes fraquejamos, caímos, perdemos a batalha, nos arrastamos como cães ao antigo vômito da escravidão ao pecado. Mas Jesus não se conforma com isso, pois você pertence a ele. Então ele te chama constantemente ao arrependimento e, se você rende sua vontade a ele, o perdão sempre está ao seu alcance.

Você é cristão mas tem cedido ao pecado? As correntes da desobediência o têm arrastado de volta ao lugar de onde saiu? Você tem praticado novamente aquilo de que Jesus já te libertou? Então a hora é esta: ouça a voz do Bom Pastor chamando-o de volta. Peça perdão. Abandone essa prática. Você pertence a Cristo e foi chamado para habitar não mais nas imundas senzalas do pecado, mas nas puras mansões celestiais. Você é escravo da liberdade. Não abra mão disso.



O EVANGELHO PROFANADO - Parte 2

A Casa de Deus

 Marcos Alexandre Damazio

“Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra o estrado dos meus pés. Que casa me edificareis? diz o Senhor, Ou qual é o lugar do meu repouso?” Atos 7:48,49.

Quando falamos de casa de Deus, logo nos vem em mente aquelas pessoas que passam em frente a uma igreja e fazem o sinal da cruz em reverência à casa de Deus, mesmo que seja um templo dedicado a São Mateus, Maria ou outro ‘santo’ qualquer.

Mas, mesmo entre os evangélicos sabemos que há uma vinculação do templo feito por mãos humanas com a casa de Deus. Em algumas denominações evangélicas não se pode entrar no templo de bermuda porque ali é a casa de Deus, segundo estas denominações.

Até hoje eu ouço pessoas afirmando que o templo de igrejas é a casa de Deus. Mas, sabemos que Deus não habita em templos construídos por mãos humanas. 

“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor.” Salmos 122:1

Este é um texto muito famoso, e por causa dele muitas pessoas alegam que o templo é a casa do Senhor.
Jesus nos alertou a não colocar vinho novo em odres velhos (Marcos 2:22). A Antiga Aliança era apenas a sombra do que seria revelado na Nova Aliança, portanto, o bode expiatório era um tipo de Cristo, o véu do templo significava a separação entre Deus e o homem por causa do pecado, e o templo simbolizava o próprio homem (Hebreus 10:1).

Aquele local físico onde santos se reúnem não é a casa de Deus, pois este é um conceito do Antigo Testamento. No Novo Testamento, Deus habita em cada um de nós, fazendo morada em nossos corpos regenerados por Ele mesmo. Então, não existe esse negócio de prestar reverências ao templo, pois o Deus vivo não habita nele. O verdadeiro templo é o corpo do homem salvo, e o altar é o nosso coração.

Veneram o templo e seu altar como se fossem sagrados. Pessoas são consideradas indignas, e por isso impedidas de subirem nos "altares" dos templos. 
Ou não sabeis que as pessoas são maiores do que esses templos e altares feitos por mãos de homens pecadores e também indignos. 
As casas de Deus são os nossos corpos, e os altares são os nossos corações. Por isso Deus diz: "Filho meu, dá-me o seu coração" (Provérbios 23:26).

Uma música evangélica famosa dizia: “Quando eu cheguei aqui meu Senhor já estava”.
Engana-se o autor da música, pois num conceito restrito Deus chegou junto com o autor da música por habitar nele. Já num conceito mais amplo, Deus é onipresente, e assim pode estar em vários lugares ao mesmo tempo.

SE NÃO É A CASA DE DEUS POR QUE EU TENHO QUE IR AO TEMPLO?

Há outra canção evangélica muito famosa que diz:

1- O que vieste fazer aqui? Eu vim para adorar a Deus!

Esta colocação foi feita a Jesus há mais de 2000 anos. Observem a resposta de Jesus:
“Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” João 4:20-24
Jesus disse que Deus é espírito. Portanto, como tal, Ele deve ser adorado em espírito e em verdade, ou seja, interiormente, e isto não requer um lugar específico.

Jesus foi ainda mais objetivo em sua resposta quando disse que nem no monte e nem em Jerusalém (no templo) adorareis o Pai.
Sendo assim, um templo feito por mãos humanas não é o lugar para a adoração ao Deus vivo.

2- O que vieste fazer aqui? Eu vim para buscar a Deus!

“Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.” Romanos 3:11
Não há quem busque a Deus. Nem um sequer.
Ora, muitos alegam que a Bíblia diz para buscar ao Senhor enquanto se pode achar. No entanto, este é mais um conceito do Antigo Testamento, embora o texto citado acima também está reproduzido no Antigo Testamento.
A dificuldade se dá ao negarmos a reconhecer que é Deus quem toma a iniciativa de tudo. Acabamos de ler que Jesus disse que os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram em espírito e em verdade. Mas, não são eles que buscam a Deus para adorá-lo. Ao contrário, Jesus disse que é Deus quem os procura.
Quem buscou Abrão? Quem buscou Davi? Deus ainda disse que havia achado a Davi (Atos 13:22). Isto significa que é Deus quem busca.
“Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.” Lucas 19:9-10.
Quando o homem busca a Deus, ele deve reconhecer que é Deus quem opera no homem tanto o querer buscar a Deus como a própria busca em si.
“Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.” Filipenses 2:13

3- O que vieste fazer aqui? Eu vim para buscar poder!

Sinto muito decepcioná-lo. Mas, o homem não tem poder. Todo poder pertence a Jesus, e nunca foi dito que Ele daria um pouquinho a homem algum.
“E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Mateus 28:18,19.
Observem que depois de afirmar que havia recebido todo o poder no Céu e na Terra, Jesus usa a conjunção “portanto”. Esta palavra significa que o ide e fazei discípulo seria sob este poder. É neste poder que somos enviados, pregamos, fazemos discípulos e batizamos.
Portanto, você não precisa buscar poder porque todo o poder no Céu e na Terra já está disponível ao homem.

4- O que vieste fazer aqui? Eu vim para orar a Deus!

“Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.” Mateus 6:6.

Jesus nos ensinou como devemos orar, e também nos ensinou onde devemos orar. Devemos orar a Deus em nosso quarto ou em nosso aposento com a porta fechada. Assim, o templo construído por mãos humanas não é o lugar adequado para orarmos.
A oração é um momento que passamos a sós com Deus, onde podemos nos desnudar diante dEle, e conversar abertamente com Deus.

Alguns podem argumentar que a Bíblia nos manda orar em todo tempo sem cessar. Mas, orar sem cessar é diferente de entrar no quarto e orar com a porta fechada.


ENTÃO NÃO É NECESSÁRIO IR AO TEMPLO?

"E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum." Atos 2:44

Na verdade, temos várias razões para irmos ao templo. Mas, nenhuma delas por causa de Deus.

1-      Devemos ir ao templo para comungar com os nossos irmãos;
2-      Devemos ir ao templo para ajudar os irmãos mais necessitados;
3-      Devemos ir ao templo para interceder por nossos irmãos;
4-      Devemos ir ao templo compartilhar dons espirituais;
5-      Devemos ir ao templo dar testemunhos;
6-      Devemos ir ao templo ouvir a palavra de Deus;
7-      Devemos ir ao templo estudar a palavra de Deus;
8-      Devemos ir ao templo participar da ceia;
9-      Devemos ir ao templo fortalecer os irmãos fracos na fé.


"E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações." Atos 2:42

Resumindo, vamos ao templo apenas para ter comunhão com nossos irmãos em Cristo.


O POVO DE DEUS ESTÁ SENDO DESTRUÍDO POR FALTA DE CONHECIMENTO DE... DEUS


 Marcos Alexandre Damazio

 CONHECENDO O MOTIVO PELO QUAL DEUS CRIOU O HOMEM
“Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha glória não a darei a outrem.” (Isaias 48:11).
Deus criou o homem e todas as demais coisas apenas para o louvor da sua glória.
Muitos de nós já nos perguntamos por que Deus criou o homem sabendo que o homem iria pecar. A resposta a esta pergunta é que de algum modo Deus viu que seria mais glorificado criando o homem a sua imagem e semelhança, e com livre-arbítrio (onde um ser criado com livre-arbítrio é uma realidade, o pecado é uma possibilidade). Deus viu que seria mais glorificado resgatando o homem do pecado do que criando robôs santos e sem a capacidade de escolher entre o bem e o mal. E, para a sua glória Deus criou a árvore do conhecimento do Bem e do Mal, colocando-a no meio do Jardim do Éden.
Portanto, o objetivo primário de Deus é ser glorificado. E esta premissa Deus não divide com ninguém. Assim, nenhuma glória será dada ao homem ou a anjo algum. Toda glória seja a Deus somente.

CONHECENDO QUE DEUS É PERFEITO
“Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento;
Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta” (Hebreus 6:17,18).
Quantos de nós quando cometemos algum pecado pensamos que Deus deixará de nos amar ou nos amará menos? Igualmente, quantos de nós nos enchemos de jactância ao pensarmos que seremos mais amados por Deus pela nossa obediência, santidade ou por ganhar muitas vidas para Jesus?
Bem, Deus é perfeito (Mateus 5:48), e um Ser perfeito ao amar ama com amor perfeito, amor máximo. Então, por ser perfeito, Deus é também imutável, ou seja, Ele não varia. Em Deus não existe amar menos ou amar mais, pois neste caso seria possível Deus variar para pior (amar menos) ou para melhor (amar mais), e em Deus não existe nem mesmo sombra de variação.
Deus não faz acepção de pessoas, assim Deus ama Adolf Hitler e Madre Teresa de Calcutá como o mesmo amor intenso (Romanos 2:11).
Jesus Cristo, um espírito eterno, se tornou um embrião no ventre de Maria, nasceu como um bebê humano, se tornou um homem e depois voltou ao Céu para ser o único ser teantrópico. Mas, acerca deste Ser Divino a Bíblia diz: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hebreus 13:8).
“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tiago 1:17).

CONHECENDO QUE DEUS É ONISCIENTE E PRESCIENTE
“E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido” (Atos 1:24)
Deus conhece todas as coisas. Ele sabe quem crê em Jesus e quem não crê, independente de frequentar igrejas ou não, Deus sabe aqueles que creem conforme as Escrituras (João 7:38). Então, todo o plano da redenção foi erguido sobre a eleição, e o alicerce da eleição é a presciência de Deus (1ª Pedro 1:2). Deus não está sujeito ao tempo, e para ele não existe passado e futuro, pois tudo está como um eterno presente diante dos seus olhos pela sua onisciência e pela sua presciência. E Deus, pela sua capacidade de conhecer previamente os fatos, ou seja, presciência, elegeu aos que de antemão conheceu (Romanos 8:29,30). 

CONHECENDO QUE DEUS NOS ESCOLHEU
“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. (Efésios 1:4).
A eleição é a escolha que Deus fez para separar os salvos dentre os perdidos. Deus fez esta escolha porque quis fazer, foi um ato de sua soberania. Contudo esta escolha não foi um ato arbitrário ou de tirania, e nem tampouco há injustiça da parte de Deus.
Esta escolha não é dizer que Deus se baseia nas nossas obras, na nossa obediência ou santidade para nos eleger, pois não é por obras (2ª Timóteo 1:9), e sim por fé, somente fé (Romanos 1:17).
“Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.” (Romanos 9:11-16).
Devemos nos lembrar que não somente a nossa salvação, mas também a nossa vida depende da misericórdia de Deus, que é a causa de não sermos consumidos. É só estamos vivos e salvos porque Deus tem PENA de nós.
Sendo assim, o propósito de Deus não é por causa das obras, e sim por fé, pois a Bíblia diz que Deus nos elegeu para a salvação pela santificação do Espírito e pela nossa fé na verdade (2ª Tessalonicenses 2:13), para a nossa obediência (1ª Pedro 1:2).
Dessa maneira a fé é a única condição para a nossa salvação. Quanto à chamada ela não é apresentada como a base da eleição, pois Jesus disse que muitos são chamados, porém destes chamados poucos são escolhidos, portanto, Deus chama muitos, porém destes muitos chamados poucos são escolhidos. Isto é, Deus também chama os não eleitos.
“Vós não me escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós” (João 15:16).

CONHECENDO QUE DEUS NUNCA SE ENGANA
Deus sabe que todos os homens são carnais e estão vendidos sob o pecado (Romanos 7:14), e sabe também que o homem carnal não obedece à lei de Deus e, de fato, não pode obedecer a ela (Romanos 8:7).
O que eu quero dizer com isso é que aqueles que Deus escolheu já estão salvos. Mas, estão salvos não por causa de sua obediência ou santidade (isto é consequência da escolha de Deus, e não a causa), porém esta salvação vem do Senhor que a garante nem que para isso seja preciso reduzir os dias difíceis da grande tribulação.
A presciência de Deus nunca se engana, e assim sendo, Deus sabe de antemão que os eleitos não se enganarão e se salvarão se os dias de tribulação forem abreviados.
“Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos”. (Mateus 24:24).
Damos graças ao nosso bom Deus por ter abreviado os dias de tribulação, pois sem esta intervenção de Deus ninguém se salvaria, e ainda seríamos enganados. Mas graças ao nosso Senhor isto não é possível.


“Ouvi a palavra do SENHOR, vós filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus.” Oséias 4:1


“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” Oséias 4:6


“Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” Oséias 6:6


“Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”. Mateus 22:29


“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor” Oséias 6:3



O EVANGELHO PROFANADO - Parte 1

 Marcos Alexandre Damazio

 O JEJUM 


“Vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.”  João 16:2 

Paulo fala de outro evangelho, um falso evangelho. Mas, Jesus diz que muitos profanariam o verdadeiro evangelho pensando estar prestando um culto a Deus. 

Quando lemos este texto, torna-se impossível não nos lembrarmos da inquisição, onde os cristãos eram jogados aos leões ou nas fogueiras por gozarem da liberdade para a qual Cristo nos libertou.

Foi para a liberdade que Cristo nos libertou, então devemos viver esta liberdade, e não nos colocar debaixo do jugo da servidão (Gálatas 5:1). Por que o jugo da religião é pesado, mas o jugo de Cristo é suave (Mateus 11:30).

O amor ao próximo é algo tão sério, que se essa liberdade para a qual Cristo nos libertou escandalizar o seu irmão que vive debaixo do jugo da religião, então devemos abrir mão desta liberdade e nos enclausurar por amor ao próximo (1ª Coríntios 8:11-13). 

Pessoas que trocam a liberdade para a qual Cristo nos libertou pelo jugo da servidão são aqueles que estão sendo destruídos por falta de conhecimento da Graça de Deus (Oséias 4:6). São aqueles que dizem que Jesus salva, mas não sabem de que Jesus salva. São os que servem à religião. 

A seguir começaremos a ver como uma profanação do Evangelho do Reino passa a ser aceita pela religião como um culto a Deus. 

O JEJUM  
“Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” Oséias 6:6 

O jejum é uma prática sacrificial de abster-se de alimentos e dedicar-se à oração por algum período por motivos de tristeza, perigo da pátria ou um sacrifício para alcançar alguma bênção da parte de Deus. 

Jesus, que era judeu (João 4:9), e veio para cumprir a lei judaica (Mateus 5:17), jejuou por 40 dias (Mateus 4;2), e ensinou aos judeus a jejuar sem parecerem tristes, porque os fariseus assim procediam para se mostrarem mais santos do que os seus próximos (Mateus 6:16-18). 

Como o jejum é uma prática religiosa e sacrificial ele não pode ter lugar na nova aliança garantida pelo sangue imaculado do Filho de Deus (Hebreus 8:13). 

Alguns tentam relacionar a eficiência do jejum no combate aos demônios com a tentação sofrida por Cristo no deserto. Já ouvi de muitos pregadores que Jesus foi para o deserto para se preparar para enfrentar o Diabo. Ele teria de jejuar quarenta dias para estar suficientemente forte para enfrentar o tentador. Jesus não foi para o deserto para jejuar coisa nenhuma. O texto diz que Ele foi levado para o deserto para ser tentado (Mateus 4:1). E sabe por que Ele teve de jejuar? Não era pra ficar mais forte, e sim, pra ficar mais fraco. Isso mesmo. O texto não diz que depois de jejuar por quarenta dias Jesus ficou mais forte espiritualmente. Em vez disso, diz que “depois de jejuar por quarenta dias e quarenta noites, teve fome”. Fome é sinal de fraqueza, e não de força. E sabe por que Ele tinha de ficar fraco e com fome? Para que a tentação do Diabo fosse legítima. Se Ele não estivesse com fome, de nada adiantaria Satanás Lhe sugerir que transformasse as pedras em pães. O que nos capacita a enfrentar as tentações e os laços do Diabo não é estarmos de estômago vazio, e sim, estarmos com o coração cheio, fortalecido na graça e no conhecimento da Palavra de Cristo (Hebreus 13:9; Colossenses 3:16).

“E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?” (Hebreus 9:15-18) 

Neste texto ficamos sabendo que Cristo é o Mediador de um NOVO TESTAMENTO. Então, se somos filhos de Deus e temos a mente de Cristo, então sabemos que um testamento somente passa a vigorar com a morte do testador. Assim, o Novo Testamento, a Nova Aliança da Graça, entrou em vigor com a morte de Cristo. 

Com isso eu quero dizer que das narrativas de Mateus, Marcos, Lucas e João, fazem parte do Novo Testamento apenas os fatos que ocorreram após a morte de Jesus.

“Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.” (Mateus 26:28) 

Jesus evidencia que o Novo Testamento é iniciado com o seu sangue. 

Deixo claro que muitas pessoas no mundo inteiro não jejuam, por entenderem que Jesus está com elas, e que o jejum não é ensinado no Novo Testamento. Eu vou além, e digo que não é nem mesmo praticado pelos apóstolos.

“Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? 
E Jesus disse-lhes: Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar; 
Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias. 
Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha; doutra sorte o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior. 
E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em odres novos.” Marcos 2:18-22 

Se o jejum era tão importante assim, a ponto de ser imprescindível, então, por que os discípulos de Jesus não jejuavam? Nesta passagem, Jesus deixa bem claro que o jejum está relacionado ao luto, à tristeza. Não havia motivo algum para que os discípulos estivessem tristes. Afinal, o Noivo estava com eles. 

Os religiosos jejuavam, mas os discípulos de Jesus não jejuavam porque Jesus estava com eles. Mas quando esteve morto por 3 dias, Jesus foi ao inferno pregar aos espíritos presos (1ª Pedro 3:19), e foi ao santuário celestial oferecer o ÚNICO sacrifício perfeito a Deus, isto é, o seu sangue puro (Hebreus 9:12). 

Apenas nestes 3 dias de morte, e também depois da ressurreição eles ficaram tristes porque Cristo não estava mais com eles (Lucas 24:17-21). Por um total de 40 dias Jesus os visitava, mas não estava com eles permanentemente como antes da sua morte, durante o seu ministério terreno (Atos 1:3).

“E eis que eu ESTOU convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” Mateus 28:20 

Jesus, antes de sua ascensão, disse suas últimas palavras aos discípulos: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém”. 

Observem que Ele não disse estarei, mas disse: “ESTOU”. 

Se cremos nestas palavras, então porque jejuamos se Jesus disse que os seus discípulos não podem jejuar enquanto Jesus estiver conosco? (Marcos 2:19). 

Muitos alegam que os discípulos não jejuavam porque Jesus estava presente fisicamente com eles. Mas, depois de ascender aos Céus Jesus está presente espiritualmente, e por isso devemos jejuar. 

Pelo contrário, Ele está mais presente em nós, do que estava com os discípulos. Para eles, Jesus era Emanuel, isto é, “Deus conosco”; agora Ele não mais está conosco, isto é, ao nosso lado. Agora, Ele está em nós. Se isso não é verdade, então Ele não cumpriu Sua promessa, e deixou-nos órfãos (João 14:17-18; Mateus 28:20; Colossenses 1:27). Nas palavras do próprio Cristo, somos mais bem-aventurados do que aqueles que conviveram com Ele nos dias da Sua carne (João 20:29; 2ª Coríntios 5:16). 

Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Deus não muda (Hebreus 13:8). 

Bem, o Jesus que esteve presente fisicamente estava esvaziado de sua glória e de muitos de seus atributos (Filipenses 2:7). 

Já o Jesus, a quem Paulo se refere como o ressuscitado (2ª Coríntios 5:16), é o mesmo que reassumiu toda a sua glória e todo o poder lhe foi dado nos Céus e na Terra (Mateus 28:18). 

Se pudéssemos comparar a presença física do Deus esvaziado com a presença espiritual do Deus Todo-Poderoso, eu diria que se com a presença do Esvaziado eles  não jejuavam, imaginem com a presença do Todo-Poderoso. 

“O bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; 
Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém.”  Timóteo 6:15-16 

Este Jesus está conosco todos os dias, e, por isso, não podemos jejuar. 

Quanto ao vinho e ao odre, Jesus estava respondendo a indagação dos discípulos de João Batista. O vinho novo significa o Evangelho da Graça, o Novo Testamento. Enquanto que os odres velhos apontam para o sistema judaico com os seus ritos religiosos, dentre os quais estava o jejum, ou seja, o Antigo Testamento. Tentar adaptar a mensagem pura do Evangelho com os hábitos religiosos dos judeus equivaleria a costurar remendo novo em vestido velho. 

Durante os primeiros anos da Igreja, os apóstolos viviam como os judeus. Mantinham a mesma dieta alimentar, praticavam a circuncisão, faziam votos judaicos, e até frequentavam o Templo e as sinagogas (Atos 10:14; 13:15; 14:23; 15:1,5; 16:3; 21:21-26). Aquele era um momento de transição. Não foi em vão que Paulo afirmou que, quando menino, fazia as coisas de menino, mas ao chegar à maturidade, abandonou de vez as coisas de menino. O livro de Atos não pode ser tomado como um livro normativo para a Igreja. Trata-se do relato histórico honesto dos primeiros anos da Igreja.

Podemos perceber claramente nos Atos dos Apóstolos, como a igreja em seus primórdios insistiu em derramar o vinho novo do Evangelho nos odres velhos do sistema religioso da lei judaica. Não poderia ter outra consequência senão a que Jesus advertiu que haveria: Os odres se romperam, como podemos conferir no relato do último encontro entre Paulo e os judeus, registrado em Atos 28:23-31. 
Os apóstolos ainda jejuaram em Atos, porque ainda não haviam se desligado totalmente do judaísmo. Mas, depois do concílio de Jerusalém (Atos 15), isso não aconteceu novamente. 

Lembro novamente que o livro de Atos não é um livro doutrinário, mas sim um livro histórico. E, nessa transição da Lei para a Graça, os apóstolos ainda mantiveram alguns costumes da Lei por algum tempo. Eles jejuavam (Atos 13:3), eles iam ao templo (Atos 3:1), eles faziam votos e raspavam a cabeça (Atos 18:18).  

Contudo, o Evangelho da Incircuncisão não aceita nada da Lei (Gálatas 5:4), e estas coisas não são praticadas ou ensinadas nas epístolas do Novo Testamento. Paulo chama os rudimentos do Antigo Testamento de fracos e pobres (Gálatas 4:9). 

Os apóstolos jamais recomendaram o jejum em parte alguma do Novo Testamento, e nem praticaram ou ensinaram algo acerca de jejum. 

Jesus antes da cruz, diante de um público formado exclusivamente de judeus, falou acerca do jejum, porque tal prática já era comum aos religiosos da época. Ele não disse: “Jejuai!” E sim: “Quando jejuardes...”

“Respondeu-lhes: Esta casta só pode sair por meio de oração [e jejum]” Marcos 9:29 

Estes colchetes não foram colocados por mim. Qualquer Bíblia revisada e corrigida traz estes colchetes na expressão “e jejum”. E sabem por quê? Porque tal expressão não consta dos melhores manuscritos. Os textos mais antigos já encontrados do Evangelho de Marcos não trazem a palavra “jejum” neste versículo. O que comprova que provavelmente Jesus não tenha falado isso. Trata-se, possivelmente, de um acréscimo feito entre o segundo e o quarto século, visando respaldar algumas práticas da igreja daquele tempo. Ademais, que diferença faria para algum demônio se estivéssemos de barriga cheia ou vazia. Se admitirmos que Jesus disse que há casta de demônios que só sai a poder de jejum, estaremos dizendo que há casos em que o Nome de Jesus não funciona.

E se de fato Jesus houvesse falado isso, temos que nos lembrar que isso teria sido antes da Cruz, e que, portanto, os principados e potestades ainda não haviam sido despojados (Colossenses 2:15).

Mesmo assim, tenho dificuldade em relacionar a expulsão de demônios com o fato de estarmos ou não em jejum. O Nome de Jesus, nosso Imperador, é suficientemente poderoso para expulsar qualquer casta, e não precisa de qualquer tipo de acessório para tornar-se mais eficiente. Não aceitar tal fato é desprezar e subestimar o poder de nosso Rei, e a autoridade do Seu Nome. 

Portanto, antes que alguém diga que há demônios que só saem com jejum, saiba que a palavra jejum, nestes textos bíblicos, foi introduzida indevidamente por copistas religiosos. 

De qualquer maneira, ninguém tem o direito de julgar o outro pelo fato de jejuar ou não.

Devemos dar ouvidos à recomendação das Escrituras: “O que come não despreze o que não come, e o que não come não julgue o que come, pois Deus o recebeu por seu. E quem come, para o Senhor come, pois dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. Se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu” (Romanos 14:3,6b,15).

Eu iniciei este artigo dizendo que o amor ao próximo é algo tão sério que suplanta o jejum e até mesmo a liberdade que temos em Cristo Jesus, nosso Senhor. 

O jejum somente se torna uma profanação do Evangelho da Graça quando é feito como um poder para mortificar a carne, ou um poder que santifica, ou uma moeda de barganha com Deus, ou um amuleto, ou mesmo uma arma auxiliar de combate ao inimigo. Para tudo isso, basta o precioso Nome de Jesus. 

Fora das motivações acima, o jejum é apenas uma dieta.